Sozinhos desde a infância, Aure e Aurá só conversam entre eles 23656n

Novo em Folha - https://web.archive.org/web/ - 01/03/2016
Sozinhos desde a infância, Aure e Aurá
só conversam entre eles
LUIZA BANDEIRA
da Editoria de Treinamento

Os índios Aure e Aurá convivem há 22 anos com os brancos. Aprenderam três palavras em português: farinha (dizem paim), saco e prato (chamam de paratu). Há cerca de 20, Aure e Aurá foram instaladas pela Funai na Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão, com os índios Awá-Guajá. Não falam nada em guajá.

Últimos falantes de uma língua desconhecida, Auré e Aurá, com idades de aproximadamente 45 anos, só conversam entre si. Segundo linguistas e agentes da Funai, não demonstram nenhum interesse em estabelecer relações com "o resto do mundo".

Os dois índios foram encontrados em 1988, em uma rodovia próxima a Marabá (PA). Foram vistos procurando comida em fazendas e os moradores, assustados, aram a Funai, que enviou representantes à região.

Ninguém sabe exatamente a história de Aure e Aurá. Pela pouca complexidade de seu vocabulário, liguistas imaginam que eles ficaram sozinhos ainda crianças, quando tinham idades entre sete e oito anos. "Eles conta que todos foram mortos por outros índios, que descrevem como de grande estatura, com orelhas furadas e cabelos longos. Dizem que estavam todos em uma festa, cantando, bebendo, quando houve o ataque e a partir daí ficaram sozinhos", diz Norval Oliveira, linguista que fez a coleta de vocábulos da língua para que ela pudesse ser classificada.

Para conseguir estabelecer contato com os índios, Norval afirma que foi preciso muito esforço. Diz que seguia os dois para todos os lugares onde iam e que podia ficar, no máximo, 15 minutos estudando o idioma. Quando eles começavam a amolar os facões, era sinal de que o tempo havia se esgotado.

Norval vê motivos para que os dois sejam tão arredios. "Eles são sobreviventes de massacres, tem as costas marcadas por cicatrizes de quem corre no mato sem muita opção". Ele conta que Aurê e Aurá tem uma audição aguçada, em decorrência dos anos ados sozinhos e em perigo.

Os índios são tão isolados que ninguém sabe o verdadeiro nome deles. Eles foram batizados assim por funcionários da Funai, que repararam que eles usavam muito a palavra "aré" _ "nós" nas línguas tupi-guarani. Resolveram, assim, chamar um deles de Aure e o outro, por associação, de Aurá, denominação que é usada até hoje.

No trabalho que fez com os índios, Norval propôs enquadrar a língua como pertencente a família tupi-guarani, o que foi reconhecido depois pelo linguista Aryon Rodrigues. Mas na língua Aurê-Aurá houve, de acordo com o linguista, uma modificação nas vogais características da família. Dessa forma, todas as tentativas de colocá-los em contato com índios de outras etnias, com línguas próximas, fracassaram.

Na língua falada por Aure e Aurá, é possível saber, só pela forma como uma frase é estruturada, a pessoa já sabe qual a relação do falantes com o que está narrando. Ou seja, ao ouvir uma frase, é possível saber se a pessoa testemunhou o fato, se ouviu falar, mas não presenciou etc.

Mapa Lingua Auré-aurá
Lingua Aurê-aurá
População: 2
Falantes: 2
Estado: Maranhão

Outras linguas
Akuntsu
Aurê aurá
Caapor
Caingangue
Canoé
Crenaque
Poinaua
Quiniquinau
Xipaia

https://web.archive.org/web/20160324225300/http://treinamento.folhasp.com.br/linguasdobrasil/lingua-aureaura.html
Índios:Línguas

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  • TI Alto Turiaçu
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